Quando abriu a pastelaria, em 1976, o senhor Oliveira já trabalhava em Campo de Ourique há algum tempo. E já estava em Lisboa há muito mais. Quarenta anos depois, o negócio continua na família e é possível que tenha seguidores. Hoje, quem está à frente da pastelaria é José Carlos Carvalho, mas o pai, o Sr. Oliveira, ainda ali vai todos os dias e está muitas vezes atrás do balcão.
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“Quando veio para Lisboa, o meu pai foi trabalhar para a Benard, no Chiado. E como era o braço direito de um dos sócios, que se chamava Carvalho, para não os confundirem passou a ser tratado não pelo último nome, mas pelo penúltimo”, conta José Carlos. Depois do Chiado, o Sr. Oliveira veio para Campo de Ourique, para a Bonina, pastelaria de que muitos dos moradores ainda se lembram, e que era dos meus donos da Benard. O passo seguinte foi tornar-se sócio da pastelaria Edite, que ainda hoje existe, “mas queria crescer e ter uma pastelaria só dele. Por isso, em 1976, abriu a Lomar”, conta o filho.
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O nome é uma homenagem à aldeia onde nasceu, em Braga. Desde criança que José Carlos passava muitos dos seus tempos livres na pastelaria do pai, “vinha para cá depois da escola, ou nas férias. Mas, a sério, comecei a trabalhar aqui aos 20 anos”. E ainda se lembra do primeiro cliente da Lomar. “Foi o Pedro Silva, um senhor que era alfaiate na Ferreira Borges. Já era amigo dos meus pais há uns anos e fez questão de vir cá tomar o pequeno-almoço na véspera de abrirmos ao público. Pagou com uma moeda de coleção, que ainda guardamos”, conta.
Pelas mesas da Lomar passam muitos dos nomes famosos que vivem em Campo de Ourique
Pelas mesas da Lomar passam muitos dos nomes famosos que vivem em Campo de Ourique ou que vão com frequência ao bairro. “A Sra. Dona Cristina Castro, que era professora de canto, viveu aqui na rua até morrer, há meia dúzia de anos, e tinha muitos alunos que são nomes conhecidos. Nessa altura, vinham todos cá, antes ou depois das aulas. Vinha o Passos Coelho, o Paulo de Carvalho, o Luís Represas… e muito outros. Dos que moram no bairro, são vários os que aqui vêm todos os dias. Olhe, o Manuel João Vieira, a Maria Flor Pedroso, o Henrique Cayatte, o João Caraça, o professor José Eduardo Carvalho – que foi meu professor na faculdade –, a Inês de Medeiros, o professor João de Deus Pinheiro, o Michel de Roubaix, o Rocha de Sousa… tanta gente famosa que passou e passa por aqui, todos os dias! E muitos já morreram, como o Fernando Farinha, que passava horas aqui sentado, a escrever. Muitos dos fados dele foram escritos aqui”, recorda José Carlos Carvalho.
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Dos clientes de 1976 ainda restam alguns, “cada vez menos, claro. Mas os filhos dessas pessoas, quando vêm a Campo de Ourique, ainda aqui vêm matar saudades dos sabores da infância”, diz. A Lomar é uma das pastelarias famosas de Campo de Ourique não só porque é uma das mais antigas, mas também porque tem bolos muito especiais. E, no Natal, há quem chegue de muito longe só para comprar bolo-rei ou lampreia de ovos.
“A nossa lampreia é muito boa, feita como manda a tradição. E, quanto ao bolo-rei, é uma receita de família, com mais de quatro gerações. Acho que é isso, a maneira como fazemos as coisas, que agrada às pessoas”, diz José Carlos Carvalho. E depois dele? Há alguém na família disposto a seguir a tradição? O dono da Lomar ri-se: “Talvez! A minha filha mais velha já está na faculdade, a estudar veterinária, e não acredito que algum dia se interesse por isto. Mas a mais nova gosta. Tenho alguma esperança que, daqui a uns anos, seja ela a estar aqui”.
Fonte: Boletim Informativo da Junta de Freguesia N.º 10 | JAN A JUL 2019
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