Fátima Rodrigues lançou-se na moda feminina quase por acaso. Como costuma dizer, «a culpa foi do senhorio». Mas descobriu uma paixão que passou a ser a sua vida. Mesmo nos piores momentos.
Fátima Rodrigues vive em Campo de Ourique há 38 anos e não imagina poder viver noutro sítio. Também é aqui que trabalha. Tem duas lojas de roupa de senhora. Chamam-se ambas Exclusive, uma é na Rua Ferreira Borges e a outra na Rua Tomás da Anunciação. «Mas a minha primeira loja chamava-se Fátima Rodrigues. Também era na Tomás da Anunciação, mas vendi-a há uns tempos», conta.
Há 27 anos, essa primeira loja de que fala, estava para arrendar e o local interessou-lhe. Era decoradora e estava num momento em que achou que seria bom para a sua carreira ter uma loja onde desse a conhecer o seu trabalho. «Quando fui falar com o senhorio, fiquei a saber que ele não autorizava a mudança de ramo. Alugava-me a loja desde que eu a mantivesse como estava, a vender malas de senhora», recorda. Fátima não recusou a ideia e foi para casa pensar no assunto: «Queria tanto ter uma loja! Decidi que ia ficar com aquela». A pouco e pouco, às malas juntaram-se a roupa e outros acessórios e, seis anos depois, Fátima Rodrigues abria a segunda loja, na Rua Ferreira Borges, e chamou-lhe Exclusive. «Há 20 anos, as minhas lojas eram completamente diferentes de tudo o que existia. Fui eu que as decorei e tinham uma atmosfera muito própria, que ainda hoje se mantém. Depois, foram aparecendo outras lojas parecidas», diz. Mostra com orgulho a loja da Ferreira Borges: «Está tal e qual como quando abriu, com a mesma decoração. Às vezes faço pequenas alterações, mudo as cores dos móveis, por exemplo, mas no essencial está como no primeiro dia».
O novo negócio fez com que se afastasse da decoração: «Deixei de ter tempo. As lojas absorveram a minha vida. uma paixão enorme, não me queixo. Não tenho vida própria, estou sempre a trabalhar. Há um amigo meu que está sempre a dizer-me que já é tempo de eu começar a viver» O comércio em Campo de Ourique passou por fases boas e más, mas Fátima Rodrigues nunca pensou fechar as lojas ou mudar de vida: «Não, nunca me passou tal coisa pela cabeça. É preciso saber resistir quando nem tudo corre bem. Com sacrifício, mas resistir».
Apostou sempre na diferença e nunca se sentiu tentada a mudar-se para um centro comercial. «Nem quando as Amoreiras abriram pensei em mudar-me para lá. Nessa altura, muita gente me disse que fazia mal, que devia abrir uma loja lá porque os centros comerciais eram o futuro. Mas não quis. Gosto de lojas de rua! E a verdade é que a abertura do centro comercial, aqui tão perto, não me prejudicou nada. Até acho que foi benéfico». Tem várias clientes que vão às suas lojas há 27 anos «e que ainda hoje usam roupa e malas que compraram nessa altura. Sempre fiz questão de vender peças de grande qualidade. Grandes marcas, como Valentino, Betty Barclay e outras do mesmo nível. E o que é engraçado é que hoje tenho essas clientes de há 27 anos e as filhas, que conheci pequeninas, e hoje já são umas senhoras e também são minhas clientes. Acho que esse é um dos aspetos mais gratificantes do me trabalho». As clientes de Fátima Rodrigues são, maioritariamente, mulheres na casa dos 40 anos, de classe média alta, que trabalham «e que sabem que aqui encontram roupa para todas as ocasiões».
Fonte: Boletim Informativo da Junta de Freguesia N.º 7 | DEZ 2016/JAN 2017
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