Janeiro 25, 2025

Leonor Xavier: “Estou entusiasmada com o Centro Cultural Europa”

Escritora e jornalista, nasceu em Lisboa e viveu mais de 10 anos no Brasil. Ao voltar a Portugal, alugou uma casa em Campo de Ourique e nunca mais de cá saiu. Gosta das pessoas, dos cafés, das lojas.

Há quantos anos vive em Campo de Ourique?

Há 30 anos, desde que voltei do Brasil. E sempre na mesma casa. E porque é que escolheu este bairro? Não escolhi exatamente o bairro, mas tive a sorte de vir viver para aqui. Naquela altura era difícil encontrar casa em Lisboa e eu tinha só uma semana para decidir se ficava em Portugal ou se voltava para o Rio de Janeiro, por causa da escola dos meus filhos. Se não encontrasse uma casa, teria de voltar e matriculá-los na escola lá. Os meus pais viviam na António Augusto de Aguiar e eu resolvi que não queria viver a norte do Marquês de Pombal, por isso, procurei casa por aqui e acabei por encontrar o apartamento onde ainda hoje vivo. Foi uma sorte. Fiquei perto dos meus pais, a minha melhor amiga também morava por aqui e os meus filhos foram estudar para o Pedro Nunes. E a rua onde eu moro, a D. João V, apesar de ser uma rua de passagem, é um sítio muito especial, onde há muita cumplicidade entre os moradores, onde as pessoas que aqui moram se conhecem. Quando estive doente toda a gente me ajudava. Gosto muito de morar aqui, é um eixo de encontro de pessoas entre o café, as Amoreiras, a Capela do Rato, a padaria ao lado dos Alunos de Apolo.

De que é que mais gosta em Campo de Ourique?

Das pessoas que cá moram. O Raúl [Solnado] dizia que Campo de Ourique é um bairro de gente honesta. E eu concordo. É um bairro de gente honesta, onde não se veem grandes diferenças sociais. E também gosto do que permanece, dos cafés onde vamos sempre, onde nos conhecem e onde conhecemos quem lá está. É isso que eu tenho aqui: a Rosa da banca dos jornais, o Zé, o Pedro, o João e a Carina do café onde vou todos os dias, a Gabriela dos sapatos. Tenho horror a espaços minimalistas que vendem pastel de nata de bacalhau! Neste momento, também estou entusiasmada com a ideia do Centro Cultural. Lembro-me muito bem do Cinema Europa e gosto da ideia de haver ali um centro cultural. Mas espero que haja um espaço de exposição dos autores que vivem no bairro e que nos chamem a participar.

A Leonor é jornalista e escritora. Onde é que começou a sua carreira, em Portugal ou no Brasil?

No Brasil. Estudei Letras em Lisboa, no tempo do Rui Bello, do Eduardo Prado Coelho… Mas depois de acabar o curso a minha vida era ser uma mulher casada e mãe de filhos. Depois do 25 de abril fui para o Brasil, com o meu marido, que era professor na Faculdade de Direito de Lisboa e foi saneado. Cheguei a São Paulo no dia 26 de março de 1976, com três crianças. Os meus filhos tinham oito, cinco e três anos. Três anos depois mudámos para o Rio de Janeiro.

Começou por ser escritora ou jornalista?

Jornalista. Comecei a escrever uma crónica sobre a noite para um jornal que era do marido da Ana Maria Niemeyer, filha do arquiteto Óscar Niemeyer. Saía imenso, nessa altura! Depois passei a escrever num jornal que se chamava Mundo Português e entretanto, também fui correspondente de outros dois jornais portugueses, o Tempo e o Diário de Notícias. E no Brasil também trabalhei na Manchete. Já depois de voltar a Lisboa, estive muitos anos na redacção da revista Máxima e agora colaboro com o Jornal de Letras.

E quando é que publicou o primeiro livro?

Em 1980. Foi nesse ano que publiquei Atmosferas.

Gostou de viver no Brasil?

Muito! E continuo a gostar muito de lá voltar, deixei grandes amigos.

O que é que a fez voltar a Portugal?

Quem me fez voltar foi o Dr. Mário Soares. Em 1987 fiz a cobertura da visita que ele fez ao Brasil, como Presidente da República e foi nessa altura que resolvi voltar. Portugal tinha-se tornado um país onde eu podia educar os meus filhos em segurança, onde podíamos estar todos juntos. E a verdade é que eu sempre quis voltar, sou uma lisboeta viciada em Lisboa. Ainda hoje me comovo com esta cidade.

 

Fonte: Junta de Freguesia de Campo de Ourique

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